A operação de 34 campos maduros
de petróleo na região de Mossoró, com entrada da iniciativa privada, é vista
como a retomada otimista e consistente da exploração na bacia petrolífera do
Rio Grande do Norte. A Petrorecôncavo, empresa que adquiriu da Petrobras os
campos maduros, deve iniciar as atividades até o início do próximo ano, com a
previsão de investimentos da ordem de R$ 600 milhões nos próximos cinco anos.
O presidente da Petrorecôncavo,
Marcelo Magalhães, em recente entrevista à imprensa local, afirmou que a
empresa vai priorizar a economia local, inclusive, devendo ficar sediada em
Mossoró. “Temos vasta experiência em revitalização de campos maduros e já
fizemos isso na Bahia. Esperamos fazer isso no Rio Grande do Norte com
investimento local e com mão de obra local. Vamos sediar o escritório em
Mossoró”, afirmou, ao adiantar que “o braço da Petrorecôncavo no RN será a
empresa Potiguar E & P.”
A nova fase da bacia potiguar foi
discutir em encontro promovido pela Organização Nacional da Indústria do
Petróleo (ONIP), na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
(FIRJAN), com a participação de autoridades e outros representantes do
segmento. Como convidado de honra, o Rio Grande do Norte aproveitou a
oportunidade para apresentar o evento Mossoró Oil & Gás – IV Fórum Onshore
Potiguar, que será realizado entre os dias 26 e 28 de novembro. A organização é
da Redepetro-RN em parceria com Sebrae-RN.
O Rio Grande do Norte é o maior
produtor de petróleo onshore e o terceiro do país, superado apenas pelo Rio de
Janeiro e Espírito Santo, que tem exploração offshore. Mas, do pico de 100 mil
barris-dia, o equivalente a 10% da produção nacional, passou a registrar 38 mil
barris-dia com a decisão da Petrobras de investir prioritariamente no pré-sal.
“Essa é a consequência nociva do
monopólio. Em 2005, começamos a cadastrar fornecedores de bonés para a
Petrobras para, em menos de dez anos, chegar a uma sólida oferta de serviços
industriais. Com o foco no pré-sal houve uma queda brutal, mas hoje
consideramos o desinvestimento como uma oportunidade de retomar uma exploração
consolidada e crescente com a iniciativa privada. Esse cenário é altamente
positivo para as micros e pequenas empresas”, explica o diretor superintendente
do Sebrae do Grande do Norte, José Ferreira de Melo Neto.
Essa expectativa começa a se
materializar com as 34 concessões para a Potiguar E&P. Está previsto um
investimento de R$ 600 milhões nos próximos cinco anos. Outras duas concessões
já estão em adiantado processo de negociação. Com essa entrada da iniciativa
privada, a projeção está estimada na extração de 60 mil barris-dia nos próximos
10 anos. Outras duas negociações estão em fase adiantada de negociação. É nesse
cenário promissor que acontece a quarta edição da Mossoró Oil & Gás.
O presidente da Redepetro-RN,
professor e geólogo Gutemberg Dias, mostra-se otimista com o evento que será
sediado em Mossoró. “Estamos trabalhando com um crescimento expressivo do
número de participantes. Aumentamos a nossa área de exposição, estamos convidando
vários atores dessa cadeia produtiva, o que vai refletir no incremento da
Rodada de Negócios. Trabalhamos para transformar a expectativa em uma realidade
positiva, com um crescimento sólido e constante.”
Essa determinação está alinhada
ao Programa de Revitalização das Atividades de Exploração e Produção de
Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres (REATE), do Ministério das Minas e
Energia (MME), criado para superar as dificuldades da nova lógica econômica.
“Avançamos nos últimos três anos
com esse modelo de gestão do governo. Discutimos os projetos com frequência
para que as metas construam a realidade”, ressalta o coordenador de Áreas
Terres da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),
José Fernandes de Freitas. “Nesse cenário, Mossoró, com um ativo espetacular, é
um exemplo perfeito dessa trajetória porque ficou hibernada, como muitos outros
polos de produção, e agora vai crescer com a retomada. Nosso desafio é explorar
todo o potencial do onshore e consideramos 2020 como o ano da virada, um marco
da exploração terrestre.”
Petrorecôncavo também quer
produção de gás natural
A Petrorecôncavo, através da
subsidiária Potiguar E & P, trabalha com a previsão de iniciar as operações
na região de Mossoró em outubro deste ano. Os investimentos de R$ 600 milhões
nos próximo cinco anos, conforme anúncio do presidente da empresa, Marcelo
Magalhães, deve ir além da exploração dos 34 campos maduros do complexo “Riacho
da Forquilha”. A companhia também discute explorar a produção de gás natural na
região.
“Temos interesse em construir
aqui uma usina termoelétrica com objetivo de gerar energia para todas as
operações”, revelou Magalhães, em audiência com a prefeita Rosalba Ciarlini,
ocorrida em maio deste ano.
No Brasil, cerca de 160 usinas
termelétricas utilizam gás natural como combustível, sendo este a principal
fonte do setor.
A expectativa é que a subsidiária
também possa gerar empregos indiretos, na contratação de mão obra para
exploração dos campos maduros, mas também de equipamentos e terceirização de
serviços em Mossoró, aproveitando a expertise da cidade no setor petrolífero.
Uma das exigências da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que é a agência
reguladora da atividade, é que as empresas possam operar garantindo a sustentabilidade
da cadeia produtiva do petróleo, ou seja, destravando investimentos para
garantir a manutenção da atividade.
Presidente Marcelo Magalhães com
a prefeita Rosalba Ciarlini
Inicialmente, a empresa vai
explorar os poços com a utilização de três sondas e estimativa de 60 a 70
postos por equipamento. O início das operações deve ocorrer ainda no segundo
semestre desse ano. “O benefício maior é aumentar a produção de barris, que
gera uma receita para a Prefeitura e para os municípios. Aqui nós vamos investir
e garantimos a mão de obra majoritariamente local”, enfatiza o presidente da
empresa.
O presidente da Petrorecôncavo
também destacou a responsabilidade socioambiental da empresa, que pode
empreender na recuperação de biomas em áreas devastadas pela exploração. “Como
sabemos, há um declínio na produção da bacia potiguar e alguns poços realmente
vão precisar ser fechados. Então, nosso trabalho também vai ser de recuperar
essas regiões”, destacou.
Rosalba Ciarlini não esconde o
otimismo com a retomada da exploração de petróleo na região de Mossoró. “Esse
será um novo momento de reaquecimento da economia, com a criação de postos de
trabalho e mão de obra especializada. Uma luta travada há vários anos e que
agora podemos ver se concretizar”, disse a prefeita.
“Mossoró hoje pode comemorar o
fortalecimento da cadeia produtiva do petróleo, aumentando a arrecadação em
nossa cidade e incrementando a nossa capacidade de investimento”, disse Rosalba
Ciarlini.
Luta por venda de poços maduros
foi iniciada pelo ex-deputado Betinho
O deputado federal Beto Rosado
(PP-RN) acredita que chegou a vez de o Rio Grande do Norte retomar a cadeia
produtiva do petróleo, com consequências positivas para Mossoró e região. O
parlamentar trabalhou em Brasília para que a iniciativa privada pudesse explorar
poços que a Petrobras não tinha mais interesse, os chamados poços maduros.
Em 2016, na época presidente da
Frente Parlamentar do Petróleo e Gás, Beto Rosado apresentou o projeto de lei
4663/16, que previa a venda de campos maduros aos produtores independentes. Na
época, o parlamentar ocupou a tribuna da Câmara para endurecer o discurso pela
venda dos campos maduros, que foram deixados de lado pela Petrobras.
A luta pela entrada da iniciativa
privada na exploração de petróleo foi iniciada há duas décadas pelo ex-deputado
federal Betinho Rosado (PP-RN), pai de Beto. Ele defendeu a abertura da
exploração dos poços maduros para a iniciativa privada, na época mal
compreendido, chegando a ser acusado de querer privatizar a Petrobras. “Na
verdade, o que ele (Betinho) queria era assegurar os empregos que hoje estão
sendo perdidos. Pensou na frente”, lembra Beto Rosado, que quando assumiu o
mandato na Câmara, sucedendo o pai, manteve a bandeira de luta.
Betinho e Beto Rosado sustentaram
a bandeira de luta na Câmara dos Deputados
Beto Rosado explica que vender os
campos maduros significa liberar somente os poços de baixa produção que a
Petrobras está deixando de lado. “Ou seja, a estatal continuará explorando o
petróleo em terra com os poços mais produtivos. Isso garante o emprego daqueles
que atuam nesses poços, sem prejudicar a abertura de novos empregos a partir da
exploração dos campos maduros pela iniciativa privada. Sempre lutamos pelo
emprego”, afirma.
“Os poços maduros possuem
capacidade de exploração em até 70% do conteúdo, como nos Estados Unidos. A
Petrobras deixou de produzir em 30%. Ou seja, ainda tem 40% de matéria-prima a
ser extraída. Por isso, a importância da retomada da produção”, explica o
deputado.
Além da geração de emprego e
renda, o parlamentar destaca que a retomada da produção de petróleo vai
recuperar os royalties perdidos por municípios e estados produtores.
Entenda venda e produção de poços
maduros
Antes, a Petrobras devolvia para
a gestão da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apenas os pequenos campos
marginais que não representavam mais viabilidade econômica para a companhia.
Desde 2005, entretanto, a ANP
passou a fazer concessão da exploração dos campos maduros para produtores
independentes, em leilões batizados no mercado de “rodadinhas”.
Na Bahia, os campos de Morro do
Barro, Bom Lugar e Araçás Leste são geridos por empresas privadas por conta das
“rodadinhas”.
Com o advento do alto potencial
de exploração da camada pré-sal no mar, os campos terrestres já explorados durante
anos, inclusive os maiores, passaram a não ser mais foco de grande interesse
para a Petrobras, que passou a promover a venda direta para a iniciativa
privada dos conjuntos de “poços maduros”, como parte da estratégia de
desinvestimento e venda de ativos da empresa.
A Petrobras vai continuar
operando nos demais campos.
Fonte: DeFato.com
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