Brasília (AE) - Peritos enfrentam
uma série de dificuldades para resgatar corpos e destroços do jato de
propriedade do Bradesco que caiu na noite de terça-feira em uma fazenda isolada
na zona rural do município mineiro de Guarda-Mor, a 551 quilômetros de Belo
Horizonte, na divisa com Goiás. Além de a explosão da aeronave ter espalhado
ferro e plástico retorcidos em um raio de 500 metros, parte da fuselagem está
soterrada e foi necessária uma escavadeira para remover a terra na busca de
evidências. Até o final da tarde de ontem, a caixa de voz com as gravações das
conversas entre o piloto e copiloto não havia sido localizada. Os trabalhos,
que seriam interrompidos ao anoitecer por causa da falta de iluminação, devem
ser retomados nesta manhã. Não há prazo para o fim das investigações.
O jato Citation 7, de matrícula
PT-WQH, com capacidade para oito passageiros, decolou de Brasília às 18h39, em
direção a São Paulo, mas sumiu dos radares do controle do tráfego aéreo às
19h04. Estavam a bordo o presidente do Bradesco Vida e Previdência, Lúcio
Flávio Condurú de Oliveira, o presidente da Bradesco Seguros, Marco Antonio
Rossi, e dois tripulantes, o piloto Ivan Morenilla Vallim e o copiloto
Francisco Henrique Tofoli Pinto. Os representantes do Bradesco estiveram em
Brasília para reunião com o ministro da Casa Civil, Jacques Wagner, e com o
secretário executivo do ministério da Fazenda, Tarcísio Godoy.
O avião caiu numa área de pasto
da Fazenda Chapadão. Para chegar ao local em que não é possível qualquer
comunicação por celular, é preciso percorrer 34 quilômetros de estrada de
terra. Os primeiros a chegar ao local, ainda na noite de terça, foram os
bombeiros do município de Catalão (GO), a 137 quilômetros de distância. Pela
manhã, o isolamento da Polícia Militar não foi suficiente para conter o avanço
de jornalistas e curiosos.
Peritos do Centro de Investigação
e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) só chegaram à fazenda na manhã
de ontem e, junto com peritos da Polícia Civil, passaram o dia debaixo de sol
forte tentando montar o quebra-cabeça de pequenos fragmentos de fuselagem. Nas
primeiras horas de trabalho, foram encontrados pedaços da asa e da cauda do
avião.
O impacto da explosão foi tão
forte que formou uma cratera de 22 metros por 10 metros de largura e cinco
metros de profundidade. No entanto, destroços ficaram soterrados a dois metros
de profundidade e foi preciso utilizar uma escavadeira. O avião caiu ainda com
tanque cheio, o que ficou evidente para a perícia pelo raio de pasto queimado
no entorno do grande buraco devido ao combustível que se espalhou.
À tarde, a fumaça que ainda saía
dos escombros se confundia com a poeira levantada pelas escavações, mistura que
obrigava os quase 30 investigadores da polícia e do Cenipa a usarem máscaras
Mesmo de longe era possível sentir o cheiro de plástico queimado.
Depois de dificuldades de
comunicação, o delegado regional de Paracatu (MG), Edson Morais, conseguiu
trazer um caminhão do Instituto Médico Legal (IML) de Patos de Minas para
transportar os fragmentos dos corpos das vítimas até Belo Horizonte, onde passarão
por exames antropológicos e de DNA para serem identificados. A polícia
localizou documentos de ao menos uma vítima.
De acordo com informações
preliminares da Aeronáutica obtidas pelo jornal “o Estado de S. Paulo”, o
piloto do jato não reportou nenhuma pane antes do acidente. Além de buscas no
local, a Aeronáutica, através do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de
Tráfego Aéreo (Cindacta), está fazendo um levantamento das gravações do período
do acidente para saber quando e qual foi a última conversa entre o piloto e a
torre de comando.
Técnicos da Força Aérea
Brasileira (FAB) ouvidos pela reportagem consideram as condições do acidente
“estranhas” e “algo muito catastrófico”. No entanto, qualquer dado real só será
fornecido com o decorrer da investigação, que não tem objetivo de apontar
culpados, mas buscar os motivos do acidente para evitar novas tragédias pelos
mesmos motivos.
Pista no mato
O jato caiu a cerca de dez
quilômetros da sede da fazenda, onde estava Sérgio Junqueira Germano, 27 anos, filho
da proprietária do terreno onde criam gado e plantam milho, soja, café e
azeitonas. “Pelo barulho, já sabia que não tinha ninguém vivo”, disse Germano,
que, assim com os funcionários, correu para ver o que tinha acontecido.
Ele acredita que o piloto pode
ter tentado pousar na pista de 1 300 metros que existe na propriedade. Aviões
pequenos são comumente utilizados pelos produtores rurais da região para se
deslocar nos terrenos a mais de 30 quilômetros da sede do município. “Tem uma
pista homologada aqui. Não sei se ele estava tentando seguir para a pista”,
disse o rapaz.
Moradores da região ficaram
apavorados com o acidente. “Escutei o barulho e achei que era trovão”, disse o
jardineiro Gonçalo de Almeida, 50. “Ouvimos um estrondo imenso e saímos correndo.
Estava pegando fogo no pasto. Apagamos o que deu com ramos. Nunca vi uma coisa
dessas. Ficou todo mundo muito assustado”, disse a dona de casa Laurinda
Ferreira, 45, casada com um capataz da fazenda.
Tribuna do Norte
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