Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO |
Vereadora por Grossos e
pré-candidata à Prefeitura daquele município, Clorisa Linhares afirma que tem
se decepcionado com a política, e que, por isso, não pretende exercer mandatos
por muito tempo. Ex-pré-candidata ao Governo do Rio Grande do Norte em 2018, a
parlamentar não conseguiu ter o seu nome viabilizado na disputa, chegando,
inclusive, a mudar de partido durante o processo, saindo do Democracia Cristã
(DC) e filiando-se ao Solidariedade. Ela revela que se sentiu traída pela
antiga sigla e que também não concordou com a forma como o seu atual partido, o
Solidariedade, promoveu a escolha do então candidato ao Governo, Breno
Queiroga. A vereadora conversou com o JORNAL DE FATO sobre esse e outros
assuntos. Acompanhe:
JORNAL DE FATO – A senhora conduz
um projeto social no município de Grossos, o “Realizando Sonhos”. Como surgiu a
ideia desse projeto?
CLORISA LINHARES – O projeto
surgiu a partir de um sonho, que foi partilhado com algumas pessoas em Grossos,
bem antes de eu ser ou pensar em ser vereadora. Eu conversava com uma amiga que
tinha o interesse de montar um projeto para atender crianças especiais, e eu
tenho uma história de vida com o meu filho que é portador de deficiência, de
uma síndrome rara, e aí ela disse: ‘Se a senhora me ajudar com o financeiro, eu
tomo de conta’. Eu tinha prometido na campanha de 2016 que, caso eu ganhasse,
eu não ficaria com o salário de vereadora, acabei revertendo o que eu recebo de
rendimentos da Câmara e passei a doar para o projeto, na verdade sempre doei
acima do valor que recebo do salário de vereadora.
ENTÃO, todo o salário de
vereadora que a senhora teria direito nesses pouco mais de dois anos de mandato
foi destinado ao projeto?
SEMPRE foi revertido e doado. As
pessoas podem conferir através do Diário Oficial de Grossos a comprovação da
doação que faço todos os meses. No ‘Realizando Sonhos’, atendemos hoje mais de
700 pessoas, sendo elas mais de 400 crianças, 52 são especiais, já com laudo,
outras 40 ainda sem laudo. Oferecemos diversas atividades, com profissionais
como psicólogo, psicopedagogo, psicomotricista relacional, fisioterapeuta. Uma
vez por mês temos um atendimento médico, realizamos alguns exames, através de
parcerias, temos ainda aula de futebol, atletismo, aula de educação especial,
fitdance, teatro. Estamos fazendo agora vários cursos, como automaquiagem,
corte e costura, aulas de reforça, palestras. Temos ainda aula de piano, em
parceria com a Uern. Fora as ações que fazemos na zona rural, por meio do ‘Realizando
Sonhos Itinerante’.
Crédito da foto: Marcos Garcia/JORNAL DE FATO |
QUAL a avaliação que a senhora
faz do seu mandato até agora?
A ATIVIDADE parlamentar é muito
importante, e cada vez mais eu tenho consciência de que a forma como escolhemos
nossos representantes interfere diretamente na conduta deles com a sociedade.
Meu mandato não foi comprado, fomos às ruas faltando 20 dias para as eleições,
eu substitui meu esposo que era o candidato, mas por ser delegado de polícia,
teria que ter afastado do cargo com seis meses de antecedência, mas se afastou
faltando três meses para o pleito, e sua candidatura foi impugnada. Com a
substituição, fui às ruas, as pessoas não me conheciam, mas eu falei o que
penso sobre a política, apresentei as minhas propostas, e eu tenho honrado
aquilo que prometi. Percebo que hoje, para ter uma vida melhor em sociedade, em
um país democrático como o nosso, é importante que possamos escolher de forma
inteligente os nossos representantes, não barganhar seu voto, e aí entendo que
nesses dois anos estou honrando os que me elegeram como vereadora. Temos mais
de 15 projetos de lei, aproximadamente sete aprovados, fora vários
requerimentos, ofícios, indicações, e as ações que a gente realiza também.
Estamos também fazendo a fiscalização dos serviços públicos municipais em
campo. Só uma vereadora independente pode fazer um trabalho independente. Minha
campanha foi feita no gogó, conscientizando as pessoas, cheguei sem amarra,
para poder trabalhar em prol da população.
A SENHORA se encontrou na
política?
É UMA experiência nova para mim,
mas eu não pretendo ficar muito tempo na política, porque é muito difícil,
percebemos que há muitas coisas dentro da política que impedem a gente de ter
uma sociedade melhor, em razão da falta de profissionalismo, de comprometimento
com o cargo que a pessoa foi eleita para exercer. Eu me decepciono ao ver
pessoas que, embora eleitas pelo povo, não têm muito comprometimento com o
papel que assumiram, muitas vezes não sabem nem por que estão lá e o que deve
ser feito.
A SENHORA foi pré-candidata ao
Governo do Rio Grande do Norte. Que lições a senhora tirou dessa experiência?
AINDA percorremos as cidades do
estado durante um ano, infelizmente o partido não honrou ao colocar um nome na
disputa, foi preciso até a gente mudar de partido posteriormente, infelizmente
ao mudarmos para o novo partido também não foi possível (a candidatura), mas a
experiência vivida, adquirida, é o que a gente leva para o resto da vida. Foi
muito importante para tratar e conhecer melhor o Rio Grande do Norte nas suas
demandas e dificuldades. Fico feliz que eu não tenha desistido, fui até o fim,
embora todas as dificuldades e preconceitos enfrentados, principalmente na
capital. Quando nos colocamos à disposição, pertencendo ao interior, percebemos
sim um certo preconceito, porém foi muito válido, porque aprendemos muitos,
principalmente na questão política. Fico agradecida pela oportunidade e
experiência.
MAS há uma decepção quanto ao
resultado de todo o esforço para que a senhora tivesse seu nome homologado nas
eleições de 2018?
UM AMIGO me disse uma vez que a
política era um jogo bruto, eu aprendi, na verdade, que a maioria das pessoas
que fazem parte desse jogo está preocupada com o seu umbigo; não está
preocupada realmente com o bem-estar da população ou em resolver e ajudar o
nosso estado, o nosso país. É um jogo de interesse, em que as pessoas não têm
escrúpulos para tomar as decisões e fazer o que for necessário para se manter
no poder. Eu me decepcionei muito, porém eu agradeço a Deus, porque foi uma
oportunidade de muito crescimento, amadurecimento e de conhecimento.
AO NÃO ter o seu nome homologado
pelo então PSDC e também pelo Solidariedade, a senhora se sentiu de alguma
forma traída naquele pleito?
A MINHA pré-candidatura ao
Governo foi iniciada a partir do convite feito pelo então presidente do PSDC
(hoje DC), dr. Joanilson de Paula Rêgo. Em relação a esse partido, me sinto sim
traída, porque fizemos todo um esforço, conversamos com as pessoas, e quando
chega na hora ‘H’, ele (o então presidente do partido) tem um comportamento
completamente diferente que uma pessoa honrada poderia ter. É lamentável como
ele se comportou na reta final, se esquivando da responsabilidade e compromisso
de lançar uma candidatura. Já com o Solidariedade eu não me sinto assim, mas
senti falta de uma votação democrática no dia da convenção, eu acho que a forma
como foi escolhido o nome do partido ao pleito, em votação secreta, eu não tive
acesso às informações, não concordo com esse ponto. Creio que se há mais de uma
pessoa do partido pleiteando a pré-candidatura, isso deveria ter sido colocado
em uma convenção de forma democrática e aberta, e não foi feito dessa forma,
mas não me sinto traída pelo Solidariedade.
A SENHORA é pré-candidata à
Prefeitura de Grossos?
HÁ ALGUM tempo, pessoas próximos
vêm pedindo para que eu coloque meu nome à disposição em 2020, isso é uma
cobrança de várias pessoas e tem aumentado. Eu respondo que meu nome
provavelmente estará à disposição, mas só podemos dizer se seremos ou não
(candidata) quando chegar o período eleitoral e a candidatura estiver
homologada em convenção. Hoje, Grossos passa por uma gestão desastrosa, é o
segundo mandato do atual prefeito. A saúde pública não funciona, temos aqui a
“ambulancioterapia”, isso mesmo de forma precária; as estradas estão terríveis;
emprego e renda numa situação ainda pior, cada vez mais as pessoas precisam
sair de Grossos para ir em busca de emprego em outros municípios, porque não há
nenhum tipo de desenvolvimento na cidade; a educação caótica, com uma creche
esburacada, sem um nome na parede, uma sala de Atendimento Educacional
Especializado (AEE) que existia foi desativada. A gente vê um caos na cidade e
fora que algumas inadimplências levam a cidade a deixar de receber alguns
convênios, benefícios. Então, a gente vê um verdadeiro desastre. Acredito que
para o próximo gestor não vai ser fácil. Primeiro, vai ter que organizar as
contas; e depois, fazer um planejamento para tentar colocar em ordem e
minimizar o cenário que a gente tem hoje instaurado em nosso município. Espero
que em 2020 as pessoas possam fazer escolhas mais acertadas, para trazer a
Grossos o desenvolvimento de que ela necessita e tem potencial de alcançar.
Grossos é uma cidade rica, tem um potencial turístico enorme, mas não há
incentivo, um gestor, alguém que esteja preocupado para fazer que a cidade
mostre o seu potencial não só ao estado, mas a todo o Brasil.
QUE potencialidades são essas?
VAMOS começar pela questão do
segundo maior cajueiro do mundo. Temos ainda um Parque Arqueológico, com
fósseis, a questão das dunas, o passeio às margens das salinas e do rio
Apodi/Mossoró, feito através de balsas. O artesanato, que exportamos hoje para
outros estados, inclusive. As próprias salinas, mecanizadas e artesanais, que
podem ser um espaço para que possa se desenvolver um estudo, passeios, e
colaborar com a parte educacional. As pessoas de Grossos são inteligentes,
trabalhadoras, mas que não conseguem ir muito à frente em razão do pouco
investimento, que acarreta em pouco desenvolvimento no nosso município. Costumo
dizer que Grossos é uma cidade rica, governada por pessoas miseráveis.
RECENTEMENTE, o Ministério
Público Federal (MPF) voltou a cobrar uma solução para a questão envolvendo os
recuos das salinas que hoje estão instaladas em áreas de preservação ambiental.
A senhora promoveu, inclusive, uma “Marcha em Defesa do Sal” recentemente. Como
a senhora avalia essa problemática?
SE ISSO (o recuo) acontecer,
acredito que nossa cidade vai virar uma cidade fantasma, porque o impacto
social e econômico vai ser desastroso, uma vez que, em média, 60%, 70% dos
empregos do município giram em torno da exploração da atividade salineira, isso
é um grande desafio para o Município.
CASO queira acrescentar algo,
fique à vontade.
FAÇO um apelo, não só aos
governantes, mas a todos os potiguares que amam o seu estado, o seu país: é
preciso que a gente trabalhe com mais propriedade a nossa realidade, a nossa
história, cultura, economia, as nossas riquezas, como, por exemplo, o sal.
Venho batendo muito nessa tecla, é preciso trazer para dentro das escolas da
nossa cidade um estudo, um acompanhamento, um programa, o projeto
político-pedagógico tem que tratar das riquezas de cada município
especificamente, para que possamos defender com propriedade o que é nosso. Eu
não acredito que a gente possa mudar a realidade do país se não pela educação.
E aí eu repito as palavras do francês André Lapierre, que inventou a
psicomotricidade relacional. Ele fala que investir na escola é, quem sabe, em
longo prazo, mudar a sociedade. É necessário investirmos mais na educação, de
forma sistematizada, para que possamos criar cidadãos conscientes de sua
responsabilidade e também dos seus direitos, para juntos darmos as mãos e
construirmos uma sociedade melhor.
Fonte: DeFato.com
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