Atividades físicas, sociais e de
lazer praticadas por idosos e pacientes com doença de Alzheimer podem ajudar a
preservar funções cognitivas e a retardar a perda da memória, mostra novo
estudo desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) e na Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Os estímulos promovem mudanças
morfológicas e funcionais no cérebro, que protegem o órgão de lesões que causam
as perdas cognitivas.
A descoberta foi feita por meio
de um experimento com camudongos transgênicos, os quais foram alterados
geneticamente para ter uma super expressão das placas senis no cérebro. Essas
placas são uma das características da doença de Alzheimer. Os animais foram
separados em três grupos: os transgênicos que receberiam estímulos, os
transgênicos que não receberiam e os animais-controle que não têm a doença.
“Quando eles estavam um pouquinho
mais velhos, por volta de 8 a 10 meses, colocamos parte desses animais em um
ambiente enriquecido, que é uma caixa com vários brinquedos, e fomos trocando
os brinquedos a cada dois dias”, explicou Tânia Viel, professora da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da USP e coordenadora do projeto.
O experimento durou quatro meses
e, após esse período, eles foram submetidos à avaliação de atividade motora,
por meio de sensores, e de memória espacial, com um teste chamado labirinto de
Barnes. Os resultados mostram que os camudongos transgênicos que foram
estimulados com os brinquedos tiveram uma redução de 24,5% no tempo para
cumprir o teste do labirinto, na comparação com os animais que não estiveram no
ambiente enriquecido.
Também foram analisados os
cérebros dos camundongos. Ao verificar as amostras do tecido cerebral, os
pesquisadores constataram que os animais transgênicos que passaram pelos
estímulos apresentaram uma redução de 69,2% na densidade total de placas senis,
em comparação com os que não foram estimulados.
Além da diminuição das placas
senis, eles tiveram aumento de uma proteína que ajuda a limpar essa placa.
Trata-se do receptor SR-B1, que se expressa na célula micróglia. O receptor faz
com que essa célula se ligue às placas e ajude a removê-las. “Os
animais-controle, sem a doença, tinham essa proteína que ajuda a limpar a
placa, inclusive todo mundo produz essa proteína. Os animais com Alzheimer
tiveram uma redução bem grande dessa proteína e os animais do ambiente
enriquecido [que tiveram estímulos] estavam parecidos com os animais-controle”,
explicou Viel.
A pesquisadora diz que o trabalho
comprova hipóteses anteriores e que agora o grupo trabalha para ampliar a
verificação em cães e seres humanos. Para isso, será necessário, inicialmente,
descobrir marcadores no sangue que apontem a relação com a doença de Alzheimer.
“Em ratos, a gente analisa o
cérebro e o sangue para ver se esses biomarcadores estão tanto no cérebro
quanto no sangue. Quando a pessoa perde a memória, há algumas proteínas que
aumentam no cérebro e outras que diminuem. Nos cães e nos seres humanos, a
gente está vendo só no sangue”, justificou. Com a descoberta desses marcadores
no sangue, será possível fazer experimentos similares ao do camundongo, com
testes motores e de memória, para confirmar ou descartar as alterações em cães
e seres humanos após os estímulos.
Para Tânia Viel, como não se sabe
qual ser humano desenvolverá a doença, quanto mais aumentar a estimulação na
vida dele, melhor vai ser para a proteção do cérebro. “É mudar a própria
rotina. Muita gente fala que não teve tempo para fazer outras coisas, mas se a
pessoa tiver condições e puder passear no quarteirão, já começa por aí, fazer
uma atividade física e uma atividade lúdica, passear com cachorro, com filho,
curso de idiomas, de dança. Isso ajuda a preservar o cérebro”, sugere.
O estudo foi publicado na revista
Frontiers in Aging Neuroscience e recebeu apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo.
Agência Brasil
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